Era Uma Vez Um Peru de Natal…
Há uns anos atrás, decidimos que a nossa Ceia de Natal iria ser diferente daquela que é tradicional em nossa casa (o borrego no forno e o bacalhau).
Apetecia-nos algo diferente, douradinho e que nos satisfizesse a gula. Tínhamos a imaginação, os olhos e o estômago cheios de “fome”.
Fomos fazer as habituais compras de Natal ao supermercado, quando nos deparámos com aquela que iria ser a nossa iguaria Natalícia. O N. já vinha sonhando e salivando com ela havia alguns dias. Assim que, na prateleira do frio, pousámos o olhar sobre ele, sabíamos que era aquele que iria connosco para casa. Tinha um peito rechonchudinho, umas belas coxas e um sex-appeal irresistível. Lá gastámos uma pipa de massa no peru e trouxemo-lo para casa.
Tratámos do “corpinho” do peru. Demos–lhe uma borrifadela com águas purificadoras e deixámo-lo a repousar num banho de imersão repleto de ervas aromáticas e sabores cítricos, no melhor SPA aqui de casa (que é como quem diz num recipiente gigantesco). Esteve a fazer este tratamento de sabor beleza durante dois dias em ambiente condicionado.
Chegado o tão ansiado dia, o formoso peru foi assente numa bela cama de alhos e cebolas, untado com o melhor dos azeites virgens e benzido pelos gulosos cá de casa. O forno “solário” foi o passo seguinte. Resumindo, a receita foi feita seguindo os mais ínfimos pormenores.
O belo peru esteve várias horas a ganhar cor e nós, esfomeados fãs incondicionais, sentados na primeira fila a assistir àquele espectáculo delicioso!
A hora da Ceia de Natal tinha chegado e os comensais esperavam salivantes pela tão dourada e deliciosa iguaria. Chegado o peru à mesa, foi trinchado com mestria e precisão sendo servido, de seguida, em companhia de vegetais variados e de umas sublimes batatinhas assadas.
Iniciou-se a degustação do peru. Eu olhei para o N. e o N. olhou para mim. Depois olhámos para os restantes comensais. Havia algo errado. Olhámos um para o outro de novo e sustivemos o riso a custo.
Então o peru, com tanto tempero, salero e esmero, não tinha saído a coisinha mais sensaborona que alguma vez na vida tinha provado?! E pior… é que o bicho era tão grande, gordo e anafado que nunca mais acabava de ser comido.
Só cá entre nós que ninguém nos oiça… o peru foi congelado e “tentado” ser comido por diversas vezes. Mas o grau de saturação já era tanto, que o simples facto de mencionarmos a palavra p-e-r-u nos causava – e causa - agonia.
Tomámos uma medida drástica: num aniversário, para exterminar o raio do bicho gordo e anafado e libertar o congelador de tão enjoativa presença, recorri à preciosa ajuda do meu robot (de cozinha) com as suas perigosas e afiadas lâminas ginsu, que em segundos fizeram picadinho d’aquilo-que-vocês-sabem.
Depois de ter despejado a minha raiva e agonia sobre aquilo-que-vocês-sabem, fiz um belo tempero, espetei com aquilo-que-vocês-sabem para dentro do tacho, deixei arrefecer um pouco e moldei uns croquetes.
Morais da História:
1) Toda a gente comeu e elogiou os croquetes de aquilo-que-vocês-sabem;
2) Aquilo-que-vocês-sabem para Ceia de Natal?!? Jamais, Salomé!;
3) E por fim… nem tudo o que parece é!!! Argh!